Retiro Espiritual – Setembro

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“A Palavra de Deus é luz e força”

 

  1. Introdução

 

No mês de setembro a Igreja celebra o mês da Bíblia. Nada mais oportuno do que no nosso Retiro Mensal refletirmos justamente sobre a Palavra de Deus na vida do cristão. A pergunta que arde dentro de nós é justamente: Que tempo dedicamos à leitura da Bíblia? Qual lugar ocupa a Palavra de Deus em nossa vida? Estas são questões que nos convidam a fazer um sério exame de consciência e avaliamos a familiaridade que cultivamos com a Palavra de Deus. Precisamos entender que esta Palavra não deve ser vista por nós somente como uma história do Povo de Deus e de Jesus. Não. Ela é para nós um testamento deixado por Jesus. Um testamento que tem sentido de herança. E podemos nos perguntar o porquê desta herança tendo já em mente a resposta: A Palavra de Deus é luz para os nossos passos. Ou seja, Jesus com a sua Palavra nos propõe um caminho que nos santifica e que nos ajuda a construir a felicidade nossa e a felicidade de todos. Não podemos caminhar sem a luz da Palavra, que ilumina e orienta os nossos passos. A própria Igreja nos propõe um itinerário para termos contato com a Palavra, basta que todos os dias a gente leia ao menos as leituras propostas para a celebração da Eucaristia de cada dia, ou seja, nós temos que ler a Liturgia da Palavra diariamente. Isso não é difícil, visto que temos à nossa disposição os diversos canais de mídia que possibilitam com facilidade o contado com esta Palavra. Portanto, não temos desculpas, cada um precisa avaliar a própria consciência e dizer: que valor eu dou à Palavra de Deus na minha vida? Então, convido você a fazer este retiro, quem sabe você mude sua relação com a Palavra e se você já tem uma relação boa com a Palavra de Deus, ótimo. Te convido a se enriquecer ainda mais.

Bom Retiro!

 

 

Rezemos:

“Meu Senhor e meu Pai!

Envia o teu Espírito Santo para que eu compreenda a tua Santa Palavra.

Que eu Te conheça e Te faça conhecido,

Te ame e Te faça amado,

Te sirva e Te faça servido,

Te louve e Te faça louvado por todas as criaturas.

Faze, ó Pai, que pela leitura da Palavra

os pecadores se convertam,

os justos perseverem na graça e

todos consigamos a vida eterna. Amém”.

 

 

  1. Meditação I: “A Palavra de Deus é luz e força”

 

Gostaria de dizer que fazer somente um retiro espiritual com o tema “Palavra de Deus” é muito pouco. Mas, olhando bem como esta Palavra está ao nosso alcance durante todo ano através das várias celebrações litúrgicas que temos à nossa disposição, posso dizer que nos é oferecida a oportunidade de fazer este retiro durante todo o ano. Cada contato que temos com a Palavra é uma oportunidade para ler, meditar, se converter e se santificar. Aliás, São Tiago nos diz que devemos “ser praticantes da Palavra e não meros ouvintes. Então, a gente lê e medita a Palavra de Deus para “ser a Palavra”. São Jerônimo e Santa Teresa do Menino Jesus levavam sempre consigo o Evangelho junto ao coração.

Quando Jesus, no momento da Transfiguração, manifesta a sua glória a Pedro, Tiago e João, da nuvem ouviu-se uma voz: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o” (Lc 9,35). Tenho certeza de que as palavra de Jesus não são como as palavras dos homens. E as primeiras pessoas que o escutaram disser isso: “porque ele as ensinava com autoridade e não como os seus escribas” (Mt 7,29). As palavras de Jesus possuem uma dimensão e uma profundidade que as demais não têm, sejam elas de filósofos, de políticos, de poetas… As palavras de Jesus são “palavras de vida”. Elas comunicam a plenitude da vida. “Senhor, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna (Jo 6,67-68).

A Palavra de Deus é nosso alimento. A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma que o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na sagrada liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo, o pão da Vida, e o distribui aos fiéis (Dei Verbum, 21) Palavra e Eucaristia, alimentos para o cristão. Orígenes dizia: “Nós bebemos o sangue de Cristo não só quando o recebemos segundo o rito dos mistérios, mas também quando recebemos as suas palavras nas quais reside a Vida[1]. E São Jerônimo afirma: “o conhecimento da Sagrada Escritura é um verdadeiro alimento e uma verdadeira bebida que se adquirem da Palavra de Deus” (Commentaris in Ecclesiastem, III, 8,12-13, CCL 72, 278). Este pão da Palavra, ainda nos recorda a Dei Verbum 23, é alimento que infunde vigor, ilumina a mente, fortalece a vontade, acende um ardor renovado, renova a vida.

Mas é certo que para a Palavra de Deus gerar vida e produzir todos os seus efeitos, é necessário que a acolhamos e a vivenciemos. Diante de Jesus que fala e que se comunica, a principal atitude que nos é pedida é a de escutar e acolher. “Escutai-o”, esta é a orientação que Deus deu aos discípulos no Monte Tabor e dá também a nós hoje. É escutar com o coração. A Palavra só dá frutos quando encontra terreno fértil, ou seja, quando cai em um “coração bom e perfeito’ (Lc 8,15). Mas não podemos nos servir desta Palavra somente para meditar, escutar significa aqui “obedecer”, isto é, fazer o que ela requer de nós. É necessário deixar-se trabalhar pela Palavra, até que ela cheque a impregnar toda a vida cristã. É preciso aplica-la em nossa vida, em todas as circunstâncias de nossa existência, transformá-la em vida.

Esta é uma regra importante a ser observada: O Evangelho. Ele é a regra que o próprio Jesus nos deixou. Ela não é complicada e nem legalista como outras regras. Ela é gentil e estimulante para o espírito. Quem quer se fazer santo, mas não se aproxima da Palavra de Deus, será um falso santo.

A Palavra contesta o nosso modo de pensar e agir e nos introduz num estilo de vida iniciado por Cristo. Quem vive do Evangelho adquire o mesmo olhar e o mesmo pensar de Jesus (1Cor 2,16), vê a vida com o olhar de Cristo. Enfim, a Palavra de Deus nos revela o sentido profundo de nossa vida, ela nos dá esperança. O resultado é que não somo mais nós a viver, mas é Cristo que vive em nós. O verbo vem morar em nós e nos transforma n’Ele.

 

 

  1. Meditação II: HOMILIA DO PAPA FRANCISCO, Basílica de São Pedro,

III Domingo do Tempo Comum, 24 de janeiro de 2021[2]

 

[Homilia preparada pelo Pontífice e lida pelo Arcebispo Dom Rino Fisichella]

 

Neste Domingo da Palavra, ouvimos Jesus anunciar o Reino de Deus. Vejamos o que diz e a quem o diz.

O que diz. Jesus começa a pregar assim: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo» (Mc 1, 15). Deus está perto: é a primeira mensagem. O seu Reino desceu à terra. Deus não está – como frequentemente nos sentimos tentados a pensar – lá em cima nos céus, distante, separado da condição humana, mas está conosco. O tempo da distância acabou, quando Se fez homem em Jesus. Desde então, Deus está muito perto; nunca Se separará nem Se cansará da nossa humanidade. Esta proximidade é o início do Evangelho, é o que Jesus – sublinha o texto – «dizia» (1, 15): não disse uma vez, e acabou; mas dizia, isto é, repetia-o continuamente. «Deus está próximo»: era o leitmotiv do seu anúncio, o coração da sua mensagem. E se este é o início e o refrão da pregação de Jesus, de igual modo deve constituir a constante da vida e do anúncio cristão. Antes de mais nada, há que acreditar e anunciar que Deus Se aproximou de nós, que fomos perdoados, «misericordiados». Antes de qualquer palavra nossa sobre Deus, está a sua Palavra para nós, que continua a dizer-nos: «Não tenhas medo, estou contigo. Estou perto de ti e continuarei a estar».

A Palavra de Deus permite-nos tocar com a mão esta proximidade, já que ela – como diz o Deuteronômio – não está longe de nós, antes está muito perto do nosso coração (cf. 30, 14). É o antídoto contra o medo de enfrentar a vida sozinho. Com efeito o Senhor, através da sua Palavra, consola, isto é, permanece com quem está só. Falando conosco, lembra-nos que estamos no seu coração, somos preciosos a seus olhos, estamos guardados na palma das suas mãos. A Palavra de Deus infunde esta paz, mas não deixa em paz. É Palavra de consolação, mas também de conversão. «Convertei-vos»: acrescenta Jesus imediatamente depois de ter proclamado a proximidade de Deus, porque com a sua proximidade acabou o tempo de deixarmos à distância Deus e os outros, acabou o tempo em que cada um só pensa em si e avança por conta própria. Isto não é cristão, porque a pessoa que experimenta a proximidade de Deus não pode colocar à distância o próximo, não pode deixá-lo distante na indiferença. Neste sentido, quem frequenta a Palavra de Deus, obtém viragens salutares na sua existência: descobre que a vida não é tempo para se guardar dos outros e proteger a si mesmo, mas ocasião para ir ao encontro dos outros em nome deste Deus próximo. Assim a Palavra, semeada no terreno do nosso coração, leva-nos a semear esperança através da proximidade. Precisamente como Deus faz conosco.

Vejamos agora a quem fala Jesus. Dirige-Se, em primeiro lugar, a pescadores da Galileia. Eram pessoas simples, que viviam do trabalho das suas mãos labutando duramente noite e dia. Não eram especialistas na Sagrada Escritura, nem se salientavam certamente por ciência e cultura. Moravam numa região heterogénea, com vários povos, etnias e cultos: era o lugar mais afastado da pureza religiosa de Jerusalém, o mais distante do coração do país. Mas Jesus começa de lá: não do centro, mas da periferia. E fá-lo também para nos dizer que ninguém fica marginalizado no coração de Deus. Todos podem receber a sua Palavra e encontrá-Lo pessoalmente. A propósito, há um significativo detalhe no Evangelho, quando se observa que a pregação de Jesus chega «depois» da de João (Mc 1, 14). Trata-se de um depois decisivo, que marca a diferença: João acolhia as pessoas no deserto, aonde iam só aqueles que podiam deixar os lugares da sua vida. Diversamente, Jesus fala de Deus no coração da sociedade humana, a todos, onde quer que estejam. E não fala em horários e tempos pré-estabelecidos: «passando ao longo do mar», fala a pescadores enquanto «lançavam as redes» (1, 16). Dirige-se às pessoas nos lugares e momentos mais comuns. Tal é a força universal da Palavra de Deus, que alcança a todos em cada uma das áreas da sua vida.

Mas a Palavra também tem uma força individual, isto é, incide sobre cada um de maneira direta, pessoal. Os discípulos nunca mais esquecerão as palavras ouvidas naquele dia nas margens do lago, perto do barco, dos familiares e colegas; palavras que marcarão para sempre a sua vida. Jesus diz-lhes: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens» (1, 17). Não os atrai com discursos elevados e inacessíveis, mas fala às suas vidas: a pescadores de peixes diz que serão pescadores de homens. Se lhes tivesse dito «vinde comigo, farei de vós Apóstolos; sereis enviados ao mundo e anunciareis o Evangelho com a força do Espírito; sereis mortos, mas tornar-vos-eis santos», podemos imaginar que Pedro e André Lhe teriam respondido: «Obrigado, mas preferimos as nossas redes e os nossos barcos». Mas Jesus chama-os partindo da sua vida: «Sois pescadores, tornar-vos-eis pescadores de homens». Conquistados por esta frase, irão descobrindo passo a passo que viver a pescar peixes era pouco; o segredo da alegria está em fazer-se ao largo obedecendo à Palavra de Jesus. É assim que o Senhor procede conosco: procura-nos onde estamos, ama-nos como somos e, pacientemente, acompanha os nossos passos. Como àqueles pescadores, vai esperar-nos também aos locais da nossa vida. Com a sua Palavra, quer fazer-nos mudar de rumo, deixando de nos limitarmos a matar o tempo para nos fazermos ao largo com Ele.

Por isso, queridos irmãos e irmãs, não renunciamos à Palavra de Deus. É a carta de amor escrita para nós por Aquele que nos conhece como ninguém: lendo-a, voltamos a ouvir a sua voz, vislumbramos o seu rosto, recebemos o seu Espírito. A Palavra aproxima-nos de Deus: não a deixemos longe. Levemo-la sempre conosco, no bolso, no tele móvel; reservemos-lhe um lugar digno nas nossas casas. Coloquemos o Evangelho num lugar onde nos lembremos de o abrir diariamente, talvez no começo e no fim do dia, de tal modo que, no meio de tantas palavras que chegam aos nossos ouvidos, qualquer versículo da Palavra de Deus chegue ao coração. Para o conseguir, peçamos ao Senhor a força de desligar a televisão e abrir a Bíblia, de apagar o tele móvel e abrir o Evangelho. Neste Ano Litúrgico, estamos a ler o Evangelho de Marcos, o mais simples e curto. Por que não fazê-lo também em privado, meditando uma pequena passagem cada dia? Far-nos-á sentir próximo o Senhor e infundirá coragem no caminho da vida.

 

Basílica de São Pedro, 24 de janeiro de 2021

Francisco

 

 

  1. Para Recordar:

 

1- “Evangelho significa em latim boa notícia ou boa nova. Podemos empregá-la sempre que se anuncia uma notícia feliz, mas reservou-se-lhe o uso para designar a mensagem divina, anunciada pelo Salvador” (Santo Agostinho).

 

2- “Abrindo-nos à palavra de Cristo, acolhendo-O e o seu Evangelho, cada membro da Igreja será também fecundo na sua vida cristã” (São João Paulo II).

 

3- “Ler a Sagrada Escritura significa pedir o conselho de Cristo” (São Francisco de Assis).

 

4- “Desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo” (São Jerônimo).

 

5- “Portanto a Palavra desceu, a fim de que a terra, que antes era um deserto, produzisse os seus frutos para nós” (Santo Ambrósio).

 

6- “Quando rezamos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagra Escritura, Deus fala conosco” (Santo Isidoro).

 

7- “Do Evangelho fiz o meu tesouro mais precioso” (Santa Teresinha do Menino Jesus).

 

8- “…se tivéssemos a Palavra de Deus sempre no coração, nenhuma tentação poderia nos afastar de Deus e nenhum obstáculo poderia nos desviar no caminho do bem” (Papa Francisco).

 

9- “Alimento e sustento da nossa alma é a Palavra de Deus, isto é, sermões, a explicação do evangelho e o catecismo” (S. João Bosco).

 

10- “A Palavra de Deus consegue criar uma unidade capaz de transcender as divisões” (Bento XVI).

 

 

  1. Exame de Consciência

 

Aconselho a você que para se fazer um bom exame de consciência, é importante a um lugar tranquilo, preferivelmente diante do sacrário, para orar. É Deus quem pode iluminar sobre nossa realidade e nos dar os meios para responder à graça. Não é enumerar pecados, mas sim descobrir a atitude do coração e com DOR POR NOSSOS PECADOS, FAZER O FIRME PROPÓSITO DE NÃO VOLTAR A COMETÊ-LOS.

 

Sempre há áreas nas quais somos mais fracos e requerem atenção especial, mas se compreendermos que Cristo é a medida, veremos que em tudo temos muito que crescer.

 

Examinando a consciência:

 

  1. Que tempo dedico à leitura e à meditação da Bíblia?

 

  1. Qual lugar ocupa a Palavra de Deus em minha vida?

 

  1. Aproveito com empenho dos momentos que a Igreja oferece para tomar contato com a Palavra, isto é, sou atento nas missas a proclamação da Palavra de Deus?

 

  1. Escutar, discernir e viver a Palavra de Deus. Tenho escutado, discernido e vivido a Palavra de Deus consciente de que ela me ajuda a ser santo?

 

  1. Leio todos os dias a Palavra de Deus segundo a orientação dada pela Sagrada Liturgia?

 

  1. Sei que a Palavra de Deus é uma orientação para os meus passos, uma luz para o meu caminho?

 

  1. São Tiago ressalta a importância da vivência da Palavra: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes” (Tg 1,22). Procuro fazer da Palavra de Deus um tesouro? Procuro colocar em prática os ensinamentos de Jesus que estão presentes nos evangelhos?

 

 

  1. Ato de Contrição[3]

 

Senhor, eu me arrependo sinceramente de todo mal que pratiquei e do bem que deixei de fazer. Pecando, eu vos ofendi, meu Deus e meu sumo bem, digno de ser amado sobre todas as coisas. Prometo firmemente, ajudado com a vossa graça, fazer penitência e fugir às ocasiões de pecado. Amém![4]

 

 

  1. Oração Final

 

Para terminar o nosso Retiro colhendo dele frutos que permaneçam, rezemos:

 

Oração A São Jerônimo

 

São Jerônimo, dai-me a graça de

compreender com clareza

a Palavra quando leio a Bíblia.

Ajudai-me a considerar o ensinamento

Que vem da bíblia acima de qualquer outro,

Já que é Palavra e Ensinamento do próprio Deus.

Fazei com que todos os homens aceitem e

Sigam as orientações do Nosso Pai,

Expressas nas Sagradas Escrituras.

Assim seja!

 

 

[1] Cf. Orígenes, 1980. In Numeros Homilia, 16,9. In PG 12,701.

[2] In: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2021/documents/papa-francesco_20210124_omelia-domenicadellaparoladidio.html. Pesquisado em 04 de agosto de 2021.

[3] Chama-se Ato de Contrição Perfeita a um recurso utilizado quando o penitente está impossibilitado de fazer a confissão sacramental e, para não descumprir o segundo mandamento da Igreja: “confessar-se ao menos uma vez por ano por ocasião da Páscoa”, reza fervorosamente uma fórmula de Ato de Contrição, com o firme propósito de receber o Sacramento da Reconciliação tão logo possível.

[4] Retirado do livro ‘Sou Católico, vivo a minha fé, Edições CNBB, 5ª edição 2019.