Retiro Espiritual – Julho

Retiro Espiritual – Julho

 

RETIRO DO MÊS DE JULHO

 

  1. Introdução

 

Neste mês de julho, a proposta que gostaria de propor como itinerário para o nosso Retiro Espiritual Mensal trata-se de uma reflexão sobre a vida de oração. São Paulo, nas Cartas aos Romanos, diz: “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus” (Rm 8,26-27). Pois é, muitas vezes ficamos confusos; quando pensamos que rezar significa dizer muitas palavras, quando, na verdade, a oração deve ser feita com poucas palavras – palavras ditas com profundidade e com o coração.

Não é vergonhoso dizer que não sabemos nem mesmo como rezar pelas pessoas e, muitas vezes, ficamos angustiados por isso. Então, como bem nos ensina São Paulo, nós devemos pedir socorro ao Paráclito. O Paráclito vem em nosso auxílio e ora com gemidos inefáveis. Ele, que conhece todas as coisas, sabe orar como convém. Ele sabe orar por sua família, sabe orar pelo seu trabalho, sabe orar por seu filho, por sua filha, por seu marido, por sua esposa, pelos problemas de sua casa. Ele ora em você: você entrega ao Espírito Santo seus lábios, sua voz, seu corpo inteiro como um instrumento. Você se coloca nas mãos d’Ele e Ele é quem faz a oração. Ele usa sua voz, seus lábios e ora de acordo com sua verdadeira necessidade.

É preciso aprender o que é a oração. Orar não é só pedir, mas é louvar, é lembrar dos nossos irmãos; é reconhecer-se frágil exaltando a Deus que nos ama com amor de Pai. Por isso, orar é petição, segundo a vontade do Pai, que está nos céus (Mateus 6:9-18). Convido você a esta meditação. Que ela seja para você não só um momento de reflexão, mas também uma ocasião para refletir sobre a sua vida de oração. A pergunta que deveremos responder ao final do nosso retiro é: Sei mesmo rezar? Tenho consciência de que a oração é importante para a minha vida espiritual? Como vai ser daqui para frente a minha oração?

Se, como diz S. Paulo, não sabemos como pedir e o que pedir, convido você a rezar pedindo por este seu momento de reflexão e retiro. Rezemos, juntos, esta oração que nos foi deixada por Santo Afonso Maria de Ligório:

 

Rezemos:

 

Ó Santo e Divino Espírito, não quero mais viver para mim mesmo;

em Vos amar e agradar quero empregar tudo o que me resta da vida.

Com este fim, Vos peço que me concedais o dom da oração mental.

 

Vinde a meu coração, ensinai-me vós mesmo a praticá-la como se deve.

Dai-me a força de não deixá-la por tédio no tempo da aridez;

dai-me o espírito de oração, isto é, a graça de sempre orar

e de fazer aquelas orações que sejam mais agradáveis ao vosso divino Coração.

 

Por meus pecados me havia perdido; mas por tantos sinais de vossa ternura,

reconheço que quereis a minha salvação e santificação.

Quero santificar-me para Vos agradar e amar mais a vossa infinita bondade.

Amo-vos, ó meu soberano Bem, meu amor, meu tudo,

e porque Vos amo, dou-me todo a Vós.

 

Ó Maria, minha esperança, protegei-me. Amém!

 

 

  1. Meditação I: “Oração: Caminho de intimidade com Deus.”

 

Quando pensamos na oração, logo nos vem em mente a capacidade de Oração que tinha Jesus. Era tão evidente o que a oração fazia com Jesus e era tão evidente o que a Oração permitia Jesus fazer, que seus discípulos, na intenção de “imitar” o Mestre, pediram que Ele os ensinasse a rezar como ele rezava (Lc 11,1). A oração de Jesus é mesmo contagiante, tanto assim, que ainda hoje, muitos buscam esta maturidade contemplativa vivenciada por Jesus. A mística de Jesus é transformadora. Nós precisamos entrar na escola de Jesus para aprendermos a orar. É com Jesus que aprendemos que a oração nos coloca em uma relação afetuosa com Deus que sabemos que nos ama e que é nosso Pai. Como já dito, desde sempre o homem vive esta busca intensa por Deus. E a oração é o caminho para descobrirmos Deus como companheiro de nossa vida.

Mas, no tempo em que estamos vivendo, o mundo tão secularizado é possível ter esta vontade de rezar? O homem continua com esta “sede de Deus” (Sl 42)? O sacerdote Inácio Larrañaga que, por muitos anos trabalhou na América Latina, em um dos seus escritos, descreve o tempo da secularização, como o ‘tempo da purificação’, ou como definiria S. João da Cruz, ‘o tempo da noite escura’. Larrañaga pensa a secularização como o tempo onde muitos vivem a fé sem falsos apoios e que graças a secularização começa a aparecer o verdadeiro Rosto do Deus da Bíblia: um Deus que interpela, incomoda e desafia. Não responde, pergunta. Não soluciona, põe em conflito. Não facilita, dificulta. Não explica, complica. Não gera meninos, faz adultos. Neste sentido, penso no momo como Deus fez amadurecer Abraão, aquele que nós chamamos de “nosso pai na fé’. Com as diversas experiências vividas, Abraão é um exemplo de como Deus nos quer: homens adultos, maduros e livres. Por um chamado de Deus, Abraão sai da própria segurança adquirida e vai em direção ao improvável, ao incerto, ao incógnito e sai desta experiência um homem amaduro na fé e se torna um líder, um guia, uma referência, um exemplo para o Povo de Deus.

Muitos ainda não perceberam que a sede de Deus é insaciável. Hoje, muitas experiências negativas que algumas pessoas vivem (por exemplo, aqueles que se jogam no mundo do vício e das drogas), são somente tentativas da busca por algo que ultrapassa a nossa realidade, a busca pelo “Transcendente’ (Deus). É a busca por sensações intensas que na oração nós chamamos de “contemplação”. É a busca pela felicidade que nós só encontramos no Amor Absoluto (Deus). Santo Agostinho foi um jovem que viveu intensamente esta busca pelo Amor Verdadeiro. Em nível espiritual, segundo Santo Agostinho, o homem é como uma seta disparada para um universo (Deus) que, como centro de gravidade, exerce uma atração irresistível, e quanto mais se aproxima desse universo, maior velocidade adquire. Quanto mais se ama a Deus, mais se quer amá-lo. Quanto mais conversamos com Ele, mais vontade temos de com Ele conversar. A atração para Ele está na proporção da proximidade d’Ele: “Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti” (Santo Agostinho).

O que é a oração senão este caminho que nos possibilita esta experiência forte com Deus. Penso que muitos ainda não aprenderam a rezar e posso dizer que isso não é mesmo fácil. Pensamos, às vezes, que rezar é dizer muitas palavras, o que pode não ser verdade. Outros não sabem porque não são perseverantes na vida de oração. Orar é questão de treinamento. Acontece como no esporte, quanto mais eu treino, mais eu fico preparado, mais eu fico habilitado, mais me torno um “expert”. A nossa capacidade de rezar esta adormecida e só vai ser despertada com o treino. Na oração, capacidades que, eventualmente, estão adormecidas precisam ser despertadas. Deus pôs em cada um de nós um germe da vontade d’Ele (sede de Deus… inquietude…) e que só germinará com muito trabalho. Então, orar bem exige trabalho. Quando nós tratamos intimamente com o Senhor, a sós, por alguns dias, quando voltamos à vida ordinária, sentimos um novo atrativo que nos arrastará ao encontro com Deus em maior intensidade.

Mas, sabemos que, quanto menos rezamos, menos vontade temos de rezar. É como quando alguém sofre de anemia, quanto menos come, menos vontade de comer tem. Não questiono as razões pelas quais uma pessoa deixa de rezar, cada um tem o seu motivo. Mas, é importante saber que quando deixamos de rezar, o nosso interior se enche de frio e dispersão. Quanto mais dispersão interior, surgirão novos motivos para abandonar o relacionamento com Deus. O gosto por Deus vai se debilitando na medida em que cresce o gosto pela multiplicidade dispersiva (pessoas, acontecimentos, sensações fortes); começa a declinar a fome de Deus na medida em que aumenta a dificuldade para “estar” alegremente com Ele.

É isso mesmo, enquanto o mundo e os homens me chamam e parecem esgotar o sentido da minha vida, Deus é uma palavra que cada vez mais vai se esvaziando de sentido, até que, afinal, acaba parecendo um traste velho que se tem na mão; olhamos, voltamos a olhar e nos perguntamos: para que isto? Já não serve.

Mas, a experiência contrária é bem diferente. Quanto mais se reza, Deus é “mais” Deus em nós. A presença de Deus em nós é imutável. O que muda são as nossas relações com Ele, conforme nosso grau de fé e amor. A oração torna mais firme a nossa relação com Deus. Quanto mais profunda a oração, mais sentimos a presença de Deus. E quanto mais sentimos a presença de Deus em nós, os acontecimentos ficam mais envoltos em um novo significado e a história fica povoada de Deus. O Senhor se faz vivamente presente em tudo. Não há sorte ou azar, mas um timoneiro que conduz os fatos com mão firme.

Quando alguém está com Deus, assume com alegria os sacrifícios, nasce em toda parte o amor. Quanto mais se “vive” com Deus, mais vontade de estar com Ele, e quanto mais se está com Deus, Deus é cada vez mais Alguém.

Poderíamos tratar ainda mais sobre a nossa experiência de oração, mas o tema é bastante abrangente. Penso que o que já foi dito aqui seja suficiente para avaliarmos a nossa vida de oração pessoal. Mas, gostaria de finalizar a nossa reflexão dizendo que, se engana quem diz que orar é fácil. É fácil fazer uma oração vocal ou uma comunicação superficial com Deus. Orar não é fácil. Com pouca oração, sem perseverança e disciplina, não podemos esperar uma forte experiência de Deus, nem transformação da vida. Orar é uma arte. É, fundamentalmente, uma obra da graça. Para orar bem é preciso método, ordem e disciplina. É preciso técnica. Mas, a técnica sem a graça não conseguirá resultado algum. Muitos anos são necessários para a formação humana de uma pessoa. Um pintor, um músico, um médico e outras profissões, necessitam de muitos anos para aprimorar as habilidades necessárias. A vida espiritual não é diferente. Se orar é uma arte, não sonhemos em alcançar um alto estado de vida com Deus sem energia, ordem e método. É preciso paciência, saber esperar. É preciso perseverança. Paciência significa saber (e aceitar) que não há saltos, mas passos. A perseverança é o preço alto de todas as conquistas deste mundo.

 

  1. Meditação II: HOMILIA DO PAPA FRANCISCO[1]

 

Basílica de São Pedro

27 de março de 2020

 

«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.

 

Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro… E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).

 

Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.

 

A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.

 

Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.

 

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»

 

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.

 

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais.

 

O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança.

 

Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.

 

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).

 

 

  1. Para Recordar:

 

1- “Quem sabe bem rezar, sabe também viver bem”. (Santo Agostinho)

 

2- “Os homens, com a oração, merecem receber aquilo que Deus onipotente desde a eternidade decidiu dar-lhes”. ( São Gregório)

 

3- “O melhor remédio contra a aridez espiritual consiste em colocarmo-nos como pedintes na presença de Deus e dos santos, e andar, como um pedinte, de um canto para o outro, rogando uma esmola espiritual com a mesma impertinência com que um pobre pede esmola”. (São Filipe Néri).

 

4- “É preciso que nos convençamos de que da oração depende todo o nosso bem. Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna”. (Santo Afonso de Ligório)

 

5- “Para mim, orar é estar ao longo de 24 horas unida à vontade de Jesus, viver para Ele, por Ele e com Ele”. (Santa Teresa de Calcutá)

 

6- “Em minha opinião, a oração mental não é mais do que tratar de amizade, estando muitas vezes a sós com Quem sabemos que nos ama”. (Santa Teresa de Ávila)

 

8- “O melhor conforto é o que vem da oração”. (São Pio)

 

10- “A oração precisa de uma atmosfera de silêncio que não coincide com o desapego do rumor externo, mas é experiência interior, que tem por finalidade remover as distrações causadas pelas preocupações da alma, criando o silêncio na própria alma”. (Santo Antônio de Pádua)

 

11- “Eu posso, dizem eles, rezar também em casa, enquanto é impossível ouvir em casa homilia ou instrução. Enganas-te a ti mesmo, ó homem. Se, de fato, podes rezar em casa, não pode rezar do mesmo modo que na Igreja…Efetivamente, os sacerdotes presidem a fim de que as orações do povo, mais fracas, unidas às deles, mais fortes, simultaneamente se elevem para o céu”. (São João Crisóstomo)

 

12- “Quem foge da oração, foge de todo o bem”. (São João da Cruz)

 

13- “Que eu te busque, Senhor, invocando-te; e que eu te invoque, crendo em ti: tu foste anunciado. Invoca-te, Senhor, a minha fé, que me deste, que me inspiraste pela humanidade de teu Filho, pelo ministério de teu pregador”. (Santo Agostinho)

 

14- “A oração é a mais sólida e indestrutível base de todas as obras”. (São Pio)

 

 

 

  1. Leitura Espiritual: Papa Francisco[2]

 

Acreditar no poder suave e extraordinário da oração

 

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

 

Na liturgia de hoje narra-se o episódio da tempestade acalmada por Jesus (Mc 4, 35-41). O barco em que os discípulos atravessam o lago é acometido pelo vento e pelas ondas e eles têm medo de afundar. Jesus encontra-se com eles no barco, mas está na popa, deitado na almofada, e dorme. Cheios de medo, os discípulos gritam com Ele: «Mestre, não te importas que pereçamos?» (v. 38).

 

E muitas vezes também nós, assaltados pelas provações da vida, gritamos ao Senhor: “Por que permaneces em silêncio e não fazes nada por mim?”. Sobretudo quando temos a impressão de afundar, porque esvaece o amor ou o projeto em que tínhamos colocado grandes esperanças; ou quando estamos à mercê das ondas insistentes da ansiedade; ou quando nos sentimos esmagados pelos problemas ou desorientados no meio do mar da vida, sem rota e sem porto. Ou ainda, nos momentos em que falta a força para ir em frente, porque não há trabalho ou um diagnóstico inesperado nos faz temer pela saúde, nossa ou de um ente querido. Há muitos momentos em que nos sentimos numa tempestade, em que nos sentimos quase perdidos.

 

Nestas situações e em muitas outras, também nós nos sentimos sufocados pelo medo e, como os discípulos, corremos o risco de perder de vista o que é mais importante. Com efeito, no barco, embora durma, Jesus está presente, e partilha com os seus tudo o que acontece. O seu sono, se por um lado nos surpreende, por outro, põe-nos à prova. O Senhor está ali, está presente; efetivamente, espera – por assim dizer – que o interpelemos, que o invoquemos, que o coloquemos no centro do que vivemos. O seu sono estimula-nos a despertar. Pois para ser discípulo de Jesus, não basta acreditar que Deus está presente, que existe, mas é preciso pôr-se em jogo com Ele, é necessário levantar a voz com Ele. Escutai isto: é preciso gritar com Ele. Muitas vezes a oração é um grito: “Senhor, salva-me!”. Hoje, Dia do Refugiado, vi no programa “À sua imagem” muitos que vêm em embarcações e no momento do naufrágio gritam: “Salva-nos!”. A mesma coisa acontece na nossa vida: “Senhor, salva-nos!”, e a oração torna-se um clamor!

 

Hoje podemos perguntar-nos: quais são os ventos que se abatem sobre a minha vida, quais são as ondas que impedem a minha navegação e colocam em perigo a minha vida espiritual, a minha vida familiar, inclusive a minha vida psíquica? Digamos tudo isto a Jesus, contemos-lhe tudo. Ele deseja isto, quer que nos apeguemos a Ele para encontrar abrigo contra as ondas anómalas da vida. O Evangelho narra que os discípulos se aproximam de Jesus, que o acordam e falam com Ele (cf. v. 38). Eis o início da nossa fé: reconhecer que sozinhos não somos capazes de permanecer à tona, que precisamos de Jesus, como os marinheiros das estrelas para encontrar a rota. A fé começa quando acreditamos que não somos autossuficientes, quando nos sentimos necessitados de Deus. Quando vencemos a tentação de nos fecharmos em nós próprios, quando superamos a falsa religiosidade que não quer incomodar Deus, quando clamamos a Ele, Ele pode fazer maravilhas em nós. É a força suave e extraordinária da oração, que faz milagres.

 

Suplicado pelos discípulos, Jesus acalma o vento e as ondas. E faz-lhes uma pergunta, uma interrogação que também nos diz respeito: «Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?» (v. 40). Os discípulos deixaram-se surpreender pelo medo, pois tinham fixado mais as ondas do que Jesus. E o medo leva-nos a olhar para as dificuldades, para os problemas graves e não para o Senhor, que muitas vezes dorme. Acontece o mesmo connosco: quantas vezes olhamos para os problemas, em vez de ir ter com o Senhor para depor nele as nossas preocupações! Quantas vezes deixamos o Senhor num canto, no fundo do barco da vida, para o acordar apenas no momento da necessidade! Hoje peçamos a graça de uma fé que não se canse de procurar o Senhor, de bater à porta do seu Coração. A Virgem Maria, que na sua vida nunca deixou de confiar em Deus, volte a despertar em nós a necessidade vital de nos confiarmos a Ele todos os dias.

 

 

  1. Exame de Consciência

 

Aconselho você que, para se fazer um bom exame de consciência, é importante estar em um lugar tranquilo, preferivelmente, diante do sacrário, para orar. É Deus quem pode iluminar sobre nossa realidade e nos dar os meios para responder à graça. Não é enumerar pecados, mas sim descobrir a atitude do coração e com DOR POR NOSSOS PECADOS, FAZER O FIRME PROPÓSITO DE NÃO VOLTAR A COMETÊ-LOS.

 

Sempre há áreas nas quais somos mais fracos e requerem atenção especial, mas, se compreendermos que Cristo é a medida, veremos que em tudo temos muito que crescer.

 

Examinando a consciência:

 

  1. Amo, na verdade, a Deus com todo meu coração, ou vivo mais apegado às coisas materiais?

 

  1. Preocupei-me por renovar minha fé cristã através da oração, a participação ativa e atenta da missa dominical, a leitura da Palavra de Deus, etc.?

 

  1. Ofereço ao Senhor meus trabalhos e alegrias? Recorro a Ele constantemente, ou só o busco quando o necessito?

 

  1. Como foi diariamente minha vida de oração: Tempo pessoal com Deus; liturgia das horas; oração familiar?

 

  1. Louvei a Deus; dei-lhe graças ou me queixei?

 

  1. Intercedo por minha família, grupo, Igreja, pelo mundo?

 

  1. Orei com o coração, aberto ao Espírito Santo?

 

  1. Sei o que é esperar no Senhor, escutá-lo? -Tenho feito isso?

 

 

  1. Ato de Contrição[3]

 

Senhor, eu me arrependo sinceramente de todo mal que pratiquei e do bem que deixei de fazer. Pecando, eu vos ofendi, meu Deus e meu sumo bem, digno de ser amado sobre todas as coisas. Prometo firmemente, ajudado com a vossa graça, fazer penitência e fugir às ocasiões de pecado. Amém![4]

 

  1. Oração Final

 

Para terminar o nosso Retiro colhendo dele frutos que permaneçam, rezemos:

 

É por meio da oração que vivo em ti, Senhor.

A minha alma está em ti, como o bebê no ventre de sua mãe:

a respiração unida à sua,

um coração que bate ao ritmo do outro…

 

Senhor Jesus, és o meu modelo.

O Evangelho mostra-te em oração

uma noite inteira sobre o monte.

Rezavas antes de realizar um milagre,

antes de escolher os Apóstolos,

durante a Ceia…

Rezavas enquanto suavas sangue

no Horto das Oliveiras,

enquanto agonizavas na cruz.

 

Rezavas com a Palavra de Deus…

A tua vida era uma contínua oração.

 

Voltado para o Pai, com um coração que ama,

inteiramente a serviço da sua glória:

“Santificado seja vosso Nome,

venha a nós o vosso Reino”.

Esperavas com ardor

que chegasse a tua hora

para realizar o sacrifício do amor.

 

Tu disseste:

“Eu e o Pai somos uma coisa só”.

“Orai sem jamais vos cansar”.

“Faço sempre o que é do agrado de meu Pai”.

 

Fazes-me entender assim

que a oração incessante

é comunhão com o Pai

e, nas prática,

ela consiste sempre

em fazer a vontade do Pai,

sob a ação do espírito Santo.

 

Assim seja!

 

Referências:

[1]Papa Francisco, Homilia na Basílica de São Pedro, 27.03.2020. In: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-homilia-oracao-bencao-urbe-et-orbi-27-marco.html. Pesquisado no dia 08.06.2021.

[2] Francisco, Papa. Oração do Angelus, 20 de junho de 2021, Vaticano, Roma. In: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2021/documents/papa-francesco_angelus_20210620.html. pesquisado no dia 28.06.2021.

[3] Chama-se Ato de Contrição Perfeita a um recurso utilizado quando o penitente está impossibilitado de fazer a confissão sacramental e, para não descumprir o segundo mandamento da Igreja: “confessar-se ao menos uma vez por ano por ocasião da Páscoa”, reza fervorosamente uma fórmula de Ato de Contrição, com o firme propósito de receber o Sacramento da Reconciliação tão logo possível.

[4] Retirado do livro ‘Sou Católico, vivo a minha fé, Edições CNBB, 5ª edição 2019.

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    25/11 – Mas a viúva, na sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver.
    18 de novembro de 2024 Reflexão do Evangelho
    25/11 – Mas a viúva, na sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver.

    Segunda-feira, 25 de novembro de 2024.   Evangelho (Lc 21,1-4)   “Mas a viúva, na sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver”   Naquele…

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