Retiro Espiritual – Março

Retiro Espiritual – Março

RETIRO DO MÊS DE MARÇO 2023

 

  1. Introdução

 

Este Retiro Espiritual é uma proposta que gostaríamos de apresentar aos nossos jovens, aos nossos educadores e aos colaboradores presentes em nossas obras educativas. Outras pessoas também podem fazê-lo. Se alguém se interessar, também temos à disposição neste mesmo site, um texto explicativo cujo título é: “O que é um Retiro Espiritual e como fazê-lo”. Podemos dizer que já nos encontramos às portas do Tempo da Quaresma e a nossa intenção é justamente trabalhar este tema como proposta meditativa do nosso retiro. O período da quaresma é um tempo propício para a meditação, para o exame da própria existência, tempo propício para o arrependimento e para a mudança de vida. É um tempo que nos prepara para a Páscoa e celebrar a Páscoa é celebrar a Vida Nova, a vida transformada pela presença e pelos ensinamentos do Cristo Ressuscitado. Este é um retiro que você pode fazer individualmente ou em grupo. Procuramos colocar à disposição textos que certamente nos auxiliarão nas nossas meditações e também nos ajudarão a construir novos propósitos de vida cristã que procuraremos viver. Como propostas para as nossas meditações, começaremos com uma homilia do Papa Emérito Bento XVI que no final de seu pontificado, por ocasião da Celebração da Quarta-feira de Cinzas, escreveu uma belíssima homilia que vale a pena ser meditada, visto que todos nós vamos trabalhar a “conversão do nosso coração”. Também meditaremos algum texto da Campanha da Fraternidade deste ano de 2023. Afinal, a fome é uma realidade que assola a vida de muitas pessoas não só no Brasil, mas principalmente no mundo, e mais especialmente nos países onde a pobreza é reinante.

Para começar bem o nosso retiro, não pode faltar a presença da força santificadora e orientadora de Deus. Por isso rezemos invocando a presença do Espírito Santo:

 

Rezemos:

“Deus Espírito Santo, renova a nossa vida: envia a Tua luz e dá-nos coragem e força. Vem, Espírito Santo. Vem a nós com Teus dons: bondade, mansidão e paciência. Vem, Espírito Santo. Não permitas que o mal nos destrua, mas ajuda-nos a superar o mal pelo bem. Vem, Espírito Santo. Dirige nosso pensamento e nossa ação, ajuda-nos na nossa fraqueza, pois sem Ti nada podemos fazer. Vem, Espírito Santo. Faze-nos boas testemunhas de Cristo e deixa-nos encontrar alegria junto de Ti. Vem, Espírito Santo. Amém!”

 

 

  1. Meditação I: “Convertei-vos a mim de todo o coração”[1]

 

Roma, São Pedro,

no dia 13 de fevereiro – Quarta-feira de Cinzas.

 

 

“Convertei-vos a mim de todo o coração”

 

Venerados Irmãos,

Amados irmãos e irmãs!

 

Hoje, Quarta-feira de Cinzas, começamos um novo caminho quaresmal, um caminho que se estende por quarenta dias e nos conduz à alegria da Páscoa do Senhor, à vitória da Vida sobre a morte. Seguindo a tradição romana, muito antiga, das estações quaresmais, reunimo-nos hoje para a Celebração da Eucaristia. A referida tradição prevê que a primeira statio tenha lugar na Basílica de Santa Sabina na colina do Aventino. Mas as circunstâncias sugeriram que nos reuníssemos na Basílica Vaticana, atendendo ao elevado número da nossa assembleia que, nesta tarde, se juntou ao redor do Túmulo do Apóstolo Pedro inclusive para pedir a sua intercessão em favor do caminho da Igreja neste momento particular, renovando a nossa fé no Supremo Pastor, Cristo Senhor. Para mim, constitui uma ocasião propícia para agradecer a todos, especialmente aos fiéis da diocese de Roma, no momento em que estou para concluir o meu ministério petrino, e pedir uma especial lembrança na oração.

 

As Leituras proclamadas oferecem-nos sugestões que somos chamados a fazê-las tornar-se, com a graça de Deus, atitudes e comportamentos concretos nesta Quaresma. A Igreja propõe-nos, em primeiro lugar, o forte apelo que o profeta Joel dirige ao povo de Israel: «Mas agora diz o Senhor, convertei-vos a mim de todo o coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos» (2, 12). Começo por sublinhar a expressão «de todo o coração», que significa a partir do centro dos nossos pensamentos e sentimentos, a partir das raízes das nossas decisões, escolhas e acções, com um gesto de liberdade total e radical. Mas, este regresso a Deus é possível? Sim, porque há uma força que não habita no nosso coração, mas emana do próprio coração de Deus. É a força da sua misericórdia. Continua o profeta: «Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia» (v. 13). A conversão ao Senhor é possível como «graça», já que é obra de Deus e fruto da fé que depomos na sua misericórdia. Esta conversão a Deus só se torna realidade concreta na nossa vida, quando a graça do Senhor penetra no nosso íntimo e o abala, dando-nos a força para «rasgar o coração». O mesmo profeta faz ressoar, da parte de Deus, estas palavras: «Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes» (v. 13). Com efeito, também nos nossos dias, muitos estão prontos a «rasgarem as vestes» diante de escândalos e injustiças – naturalmente cometidos por outros – mas poucos parecem dispostos a actuar sobre o seu «coração», a sua consciência e as próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, renove e converta.

 

Além disso, este «convertei-vos a mim de todo o coração» é um apelo que envolve não só o indivíduo, mas também a comunidade. Na primeira Leitura, ouvimos também dizer: «Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada. Reuni o povo, convocai a assembleia, juntai os anciãos, congregai os pequeninos e os meninos peito. Saia o esposo dos seus aposentos e a esposa do seu leito nupcial» (vv. 15-16). A dimensão comunitária é um elemento essencial na fé e na vida cristã. Cristo veio «para congregar na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos» (Jo 11, 52). O «nós» da Igreja é a comunidade na qual Jesus nos congrega na unidade (cf. Jo 12, 32): a fé é necessariamente eclesial. É importante recordar isto e vivê-lo neste Tempo da Quaresma: cada qual esteja consciente de que não empreende o caminho penitencial sozinho, mas juntamente com muitos irmãos e irmãs, na Igreja.

 

Por fim, o profeta detém-se na oração dos sacerdotes, os quais, com as lágrimas nos olhos, se dirigem a Deus, dizendo: «Não transformes em ignomínia a tua herança, para que ela não se torne o escárnio dos povos! Porque diriam: “Onde está o seu Deus?”» (v. 17). Esta oração faz-nos refletir sobre a importância que tem o testemunho de fé e de vida cristã de cada um de nós e das nossas comunidades para manifestar o rosto da Igreja; rosto este que, às vezes, fica deturpado. Penso de modo particular nas culpas contra a unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesial. Viver a Quaresma numa comunhão eclesial mais intensa e palpável, superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão longe da fé ou são indiferentes.

 

«Agora é o momento favorável, agora é o dia da salvação» (2 Cor 6, 2). A urgência com que estas palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto ressoam também para nós é tal que não admite escapatória ou inércia. A repetição do termo «agora» significa que este momento não pode ser desperdiçado, é-nos oferecido como uma ocasião única e irrepetível. E o olhar do Apóstolo concentra-se sobre Cristo cuja vida se caracteriza pela partilha, tendo Ele assumido tudo o que era humano até ao ponto de carregar sobre Si o próprio pecado dos homens. A frase de São Paulo é muito forte: «Deus o fez pecado por nós». Jesus, o inocente, o Santo, «Aquele que não havia conhecido o pecado» (2 Cor 5, 21), carrega o peso do pecado partilhando com a humanidade o seu resultado: a morte, e morte de cruz. A reconciliação que nos é oferecida teve um preço altíssimo: a cruz erguida no Gólgota, na qual esteve pendurado o Filho de Deus feito homem. Nesta imersão de Deus no sofrimento humano e no abismo do mal, está a raiz da nossa justificação. O «converter-se a Deus de todo o coração» no nosso caminho quaresmal passa através da Cruz, do seguir Cristo pela estrada que conduz ao Calvário, ao dom total de si mesmo. É um caminho onde devemos aprender dia a dia a sair cada vez mais do nosso egoísmo e mesquinhez para dar espaço a Deus que abre e transforma o coração. E São Paulo lembra que o anúncio da Cruz ressoa para nós mediante a pregação da Palavra, da qual o próprio Apóstolo é embaixador; trata-se de um apelo que nos é dirigido para fazermos com que este caminho quaresmal se caracterize por uma escuta mais atenta e assídua da Palavra de Deus, luz que ilumina os nossos passos.

 

Na página do Evangelho de Mateus, que pertence ao chamado Sermão da Montanha, Jesus faz referência a três práticas fundamentais previstas pela Lei mosaica: a esmola, a oração e o jejum; mas são também indicações tradicionais, no caminho quaresmal, para responder ao convite de «converter-se a Deus de todo o coração». Mas Jesus põe em evidência aquilo que qualifica a autenticidade de cada gesto religioso, dizendo que é a qualidade e a verdade do relacionamento com Deus. Por isso, denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer dar nas vistas, as atitudes que buscam o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não procura servir-se a si mesmo ou ao «público», mas ao seu Senhor com simplicidade e generosidade: «E teu Pai, que vê o oculto, há-de recompensar-te» (Mt 6, 4.6.18). Então o nosso testemunho será tanto mais incisivo quanto menos procurarmos a nossa glória, cientes de que a recompensa do justo é o próprio Deus, permanecer unido a Ele, aqui nesta terra, no caminho da fé e, no fim vida, na paz e na luz do encontro face a face com Ele para sempre (cf. 1 Cor 13, 12).

 

Amados irmãos e irmãs, confiantes e alegres comecemos o itinerário quaresmal. Ressoe em nós intensamente o convite à conversão, a «converter-se a Deus de todo o coração», acolhendo a sua graça que faz de nós homens novos, e de uma novidade maravilhosa que é a participação na própria vida de Jesus. Que nenhum de nós fique surdo a este apelo, que nos é dirigido nomeadamente com o rito austero – tão simples e ao mesmo tempo tão sugestivo – da imposição das cinzas, que dentro em breve realizaremos. Acompanha-nos neste tempo a Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de todo o verdadeiro discípulo do Senhor. Amém!

 

 

 

  1. Meditação II: MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2023

 

 

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

 

Todos os anos, no tempo da Quaresma, somos chamados por Deus a trilhar um caminho de verdadeira e sincera conversão, redirecionando toda a nossa vida para Ele, que “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ao preparar-nos para a celebração dessa entrega amorosa na Páscoa, encontramos na oração, na esmola e no jejum, vividos de modo mais intenso durante este tempo, práticas penitenciais que nos ajudam a colaborar com a ação do Espirito Santo, autor da nossa  santificação.

 

Com o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao encontro do Senhor, a Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos o nosso olhar para os nossos irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável” (Discurso no encontro com os Movimentos Populares, 28/X/2014)

 

A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos “Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mt 14, 16) é dirigida hoje a todos nós, seus discípulos, para que partilhemos – do muito ou do pouco que temos – com os nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome. Sabemos que indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: eu estava com fome, e me destes de comer… todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 35.40).

 

É meu grande desejo que a reflexão sobre o tema da fome, proposta aos católicos brasileiros durante o tempo quaresmal que se aproxima, leve não somente a ações concretas – sem dúvida, necessárias – que venham de modo emergencial em auxilio dos irmãos mais necessitados, mas também gere em todos a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações pontuais, mas deve ser uma atitude constante de todos nós, que nos compromete com Cristo presente em todo aquele que passa fome.

 

Desejo igualmente que esta conscientização pessoal ressoe em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, mas também encontre eco nos órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais entidades da sociedade civil, a fim de que, trabalhando todos em conjunto, possam definitivamente extirpar das terras brasileiras o flagelo da fome. Lembremo-nos de que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Têm a mesma carne e sangue que nós. Por isso, merecem que uma mão amiga os socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito de cidadania” (Mensagem para o Dia Mundial da Alimentação, 16/X/2018, n. 7)

 

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida e como penhor de abundantes graças celestes que auxiliem as iniciativas nascidas a partir da Campanha da Fraternidade, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial aqueles que se empenham incansavelmente para que ninguém passe fome, a Benção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.

 

Roma, São João de Latrão, 21 de dezembro de 2022.

 

Franciscus

 

 

  1. Leitura Espiritual:

 

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO 2016[2]

 

 

Ao Professor José Graziano da Silva Diretor-Geral da FAO

Ilustríssimo Senhor!

 

  1. A circunstância que a FAO tenha querido dedicar o hodierno Dia Mundial da Alimentação ao tema «O clima está a mudar. A alimentação e a agricultura também», leva-nos a considerar a luta contra a fome um objetivo ainda mais difícil de alcançar, na presença de um fenómeno complexo como as mudanças climáticas. Na lógica de fazer face aos desafios que a natureza apresenta ao homem e o homem apresenta à natureza (cf. Enc. Laudato si’, 25), permito-me submeter à consideração da FAO, dos seus Estados-Membros e de quantos participam na sua ação algumas reflexões.

 

Ao que se deve a atual mudança climática? Devemos questionar-nos sobre as nossas responsabilidades individuais e coletivas sem recorrer a fáceis sofismos que se escondem por detrás de dados estatísticos ou de previsões discordantes. Não se trata de abandonar o dado científico do qual precisamos como nunca, mas de ir além da simples leitura do fenómeno ou de contabilizar os seus múltiplos efeitos.

 

A nossa condição de pessoas necessariamente em relação e a nossa responsabilidade de guardas da criação e da sua ordem impõem que remontemos às causas das atuais mudanças e cheguemos às raízes. Antes de tudo, devemos admitir que os diversos efeitos negativos sobre o clima derivam dos comportamentos diários de pessoas, comunidades, povos e Estados. Se estivermos cientes disto, não é suficiente a avaliação em termos éticos e morais. É preciso agir politicamente, ou seja, fazer as opções necessárias, desencorajar ou promover comportamentos e estilos de vida, em benefício das novas gerações e das vindouras. Só assim podemos preservar o planeta.

 

As intervenções necessárias devem ser adequadamente projetadas e não podem ser fruto da emotividade ou das razões de um momento. É importante programá-las. Neste trabalho as instituições, chamadas a trabalhar juntas, assumem um papel fundamental, dado que a ação dos indivíduos, mesmo se necessária, só será eficaz se for enquadrada numa rede feita de pessoas, entidades públicas e privadas, organizações nacionais e internacionais. Mas esta rede não pode permanecer anónima, esta rede tem o nome de fraternidade e deve agir com base na sua solidariedade fundamental.

 

  1. Quantos estão comprometidos no trabalho dos campos, da criação de gado, da pequena pesca, das florestas, ou vivem nas áreas rurais em confronto direto com os efeitos das mudanças climáticas, experimentam que, se o clima muda, também a sua vida muda. Sobre os seus dias pesam situações difíceis, por vezes dramáticas, o futuro torna-se cada vez mais incerto e assim ganha terreno o pensamento de abandonar casas e afetos. Prevalece o sentido de abandono, o sentimento de ser esquecidos pelas instituições, privados das contribuições que podem derivar da técnica, e também da justa consideração por parte de todos nós que beneficiamos do seu trabalho.

 

Da sabedoria das comunidades rurais podemos aprender um estilo de vida que pode ajudar a defender-se da lógica do consumo e da produção a toda a força, lógica que, disfarçando-se de boas justificações, como o aumento da população, na realidade têm por objetivo unicamente o aumento do lucro. No setor do qual a FAO se ocupa, está a crescer o número de quantos pensam que são omnipotentes e que podem descuidar os ciclos das estações ou modificar impropriamente as diversas espécies animais e vegetais, fazendo perder aquela variedade que, se existe na natureza, significa que desempenha — e deve desempenhar — o seu papel. Criar produtos que dão ótimos resultados no laboratório, pode ser vantajoso para alguns, mas ter efeitos arruinadores para outros. E o princípio de precaução não é suficiente, porque muitas vezes se limita a não permitir fazer algo, enquanto há necessidade de agir com equilíbrio e honestidade. Selecionar geneticamente uma qualidade de planta pode dar resultados impressionantes sob o ponto de vista quantitativo, mas foram tidos em conta os terrenos que vão perder a sua capacidade de produzir, os criadores de gado que não vão ter pastagens para os seus animais, e quantos recursos aquíferos se tornarão inutilizáveis? E sobretudo, questionamo-nos se e em que medida contribuímos para alterar o clima?

 

Por conseguinte, não se trata de precaução, mas de sabedoria! Aquela que camponeses, pescadores, criadores de gado conservam na memória há gerações e que hoje veem escarnecida e esquecida por um modelo de produção que é vantajoso unicamente para grupos restritos de uma exígua porção da população mundial. Recordemo-nos que se trata de um modelo que, com toda a sua ciência, permite que cerca de oitocentos milhões de pessoas ainda sofram a fome.

 

  1. A questão tem os seus reflexos diretos nas emergências que diariamente Instituições intergovernamentais como a FAO estão chamadas a enfrentar e gerir, cientes de que as mudanças climáticas não dependem exclusivamente da esfera meteorológica. Como esquecer que também o clima concorre para tornar incessante a mobilidade humana! Os dados mais recentes dizem que os migrantes climáticos são cada vez mais numerosos e contribuem para engrossar a fila daquela caravana dos últimos, dos excluídos, daqueles aos quais é negado o desempenho de um papel na grande família humana. Um papel que não pode ser concedido por um estado ou por um status, mas que pertence a cada ser humano enquanto pessoa, com a sua dignidade e os seus direitos.

 

Impressionar-se e comover-se diante de quem, em qualquer latitude, pede o pão de cada dia, nem sempre é suficiente. São necessárias escolhas e ações. Muitas vezes, também como Igreja Católica, recordamos que os níveis de produção mundial permitem garantir alimentos a todos, sob condição de que haja uma distribuição equitativa. Mas podemos ainda continuar nesta linha, se depois as lógicas seguem outros caminhos chegando a fazer dos produtos agrícolas uma mercadoria qualquer, a usá-los cada vez mais para finalidades não alimentares ou a destruir alimentos unicamente porque são em excesso em relação ao lucro e não às necessidades? Com efeito, sabemos que o mecanismo da distribuição permanece teórico se os famintos não têm acesso efetivo aos alimentos, se continuam a depender de contribuições externas mais ou menos condicionadas, se não se cria uma relação correta entre procura e consumo e, por fim, se não se eliminam os desperdícios e não se limitam as perdas alimentares.

 

Todos estamos chamados a cooperar nesta mudança de rumo: responsáveis políticos, produtores, trabalhadores da terra, da pesca e das florestas, e todos os cidadãos. Certamente, cada um nas diversas responsabilidades, mas todos no mesmo papel de construtores de uma ordem interna das Nações e de uma ordem internacional que não permitam mais que o desenvolvimento seja privilégio de poucos, nem que os bens da criação sejam património dos poderosos. As possibilidades não faltam e os exemplos positivos, as boas práticas, põem-nos à disposição experiências que podem ser percorridas, partilhadas e difundidas.

 

  1. A vontade de trabalhar não pode depender das vantagens que disso podem derivar, mas é uma exigência relacionada com as necessidades que se manifestam na vida das pessoas e da inteira família humana. Necessidades materiais e espirituais, mas contudo reais, não fruto das escolhas de poucos, de modas do momento ou de modelos de vida que tornam a pessoa um objeto, a vida humana um instrumento, até de experimentação, e a produção de alimentos um mero negócio, ao qual sacrificar até os alimentos disponíveis, destinado por natureza a fazer com que cada um possa ter todos os dias uma alimentação suficiente e sadia.

 

Estamos já próximos da nova etapa que em Marrakech chamará os Estados-Parte da Convenção sobre as mudanças climáticas a pôr em prática aqueles compromissos. Penso que interpreto o desejo de muitos ao auspiciar que os objetivos traçados pelo Acordo de Paris não permaneçam palavras, mas se transformem em decisões corajosas capazes de fazer da solidariedade não só uma virtude, mas também um modelo concreto na economia, e da fraternidade não mais uma aspiração, mas um critério da governança interna e internacional.

 

São estas, Senhor Diretor-Geral, algumas reflexões que desejo fazer-lhe chegar neste momento, no qual se entreveem preocupações, trepidações e tensões causadas também por uma questão climática que está cada vez mais presente no nosso dia a dia e pesa sobre as condições de vida, antes de tudo, de tantos nossos irmãos e irmãs entre os mais vulneráveis e marginalizados. Queira o Omnipotente abençoar os vossos esforços ao serviço da humanidade inteira.

 

Vaticano, 14 de outubro de 2016

 

FRANCISCO

 

 

  1. Para Recordar:

 

  1. São Leão Magno: “A quaresma é tempo de limpar e enfeitar a casa por dentro. Convém que vivamos sempre de modo sábio e santo, dirigindo nossa vontade e nossas ações para aquilo que sabemos agradar a Deus”.

 

  1. Papa Francisco: “A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza”.

 

  1. Papa Emérito Bento XVI: “Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”.

 

  1. “Quem quiser vencer as tentações, não confie em si, mas tanto mais em Deus” (Santo Antão, Abade).

 

  1. “A santidade consiste em estar sempre alegre” (São João Bosco)

 

  1. “Para ser santo uma só coisa é necessária: estar perto de Jesus”. (Padre Pio)

 

  1. “Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade”. (Papa Francisco)

 

  1. “Para ser santo não é preciso realizar atos extraordinários nem possuir dons excepcionais. É simplesmente necessário servir Jesus, escutá-lo e segui-lo sem perder a coragem perante as dificuldades”. (Bento XVI)

 

 

Oração

 

Senhor,

Nesta Quaresma, tempo de mergulhar no meu interior,

de revisão e de conversão,

ensina-me a descer sempre mais

até onde Tu te encontras: o meu coração.

Como “descer” até aí?

 

Pelo silêncio, encontrando tempo para rezar,

pela leitura da Tua Palavra que tanto me quer dizer,

pelos Sacramentos, especialmente a Confissão e a Santa Missa.

 

Também pela aceitação das contrariedades,

o peso das circunstâncias e da monotonia da vida…

com os olhos postos em Ti.

 

Senhor, Tu que estás no meu íntimo,

ajuda-me nesta Quaresma a fazer uma viagem ao meu interior,

para aí me encontrar contigo! Amém!

 

 

  1. Exame de Consciência

 

 

Oração Inicial

 

Senhor Pai Santo, iluminai o meu coração com a graça do Espírito Santo para poder reconhecer com humildade os meus pecados e confessa-los com clareza e arrependimento sincero. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

 

Exame:

 

Neguei ou abandonei a minha fé? Tenho a preocupação de conhecê-la melhor? Recusei-me a defender a minha fé ou fiquei envergonhado dela?

Existe algum aspecto da minha fé que eu ainda não aceito?

Faltei voluntariamente à Missa nos domingos ou dias de preceito?

Disse o nome de Deus em vão? Pratiquei o espiritismo ou coloquei a minha confiança em adivinhos ou horóscopos?

Manifestei falta de respeito pelas pessoas, lugares ou coisas santas?

Recebi a Sagrada Comunhão tendo algum pecado grave não confessado?

Recebi a Comunhão sem agradecimento ou sem a devida reverência?

Fui impaciente, fiquei irritado ou fui invejoso?

Guardei ressentimentos ou relutei em perdoar?

Fui violento nas palavras ou ações com outros?

Tive ódio ou juízos críticos, em pensamentos ou ações? Olhei os outros com desprezo?

Fiquei vendo vídeos ou sites pornográficos? Cometi atos impuros, sozinho ou com outras pessoas?

Estou morando com alguém como se fosse casado, sem que o seja?

Se sou casado, procuro amar o meu cônjuge mais do que a qualquer outra pessoa? Coloco meu casamento em primeiro lugar?

E os meus filhos? Tenho uma atitude aberta para novos filhos?

Gastei dinheiro com o meu conforto e luxo pessoal, esquecendo as minhas responsabilidades para com os outros e para com a Igreja?

Disse mentiras? Fui honesto e diligente no meu trabalho? Roubei ou enganei alguém no trabalho?

Cedi à preguiça? Preferi a comodidade ao invés do serviço aos demais?

Descuidei a minha responsabilidade de aproximar de Deus os outros, com o meu exemplo e a minha palavra?

Colaborei ou encorajei alguém a fazer um aborto ou a destruir embriões humanos, a praticar a eutanásia ou qualquer outro meio de acabar com a vida?

Falei mal dos outros, transformando o assunto em fofoca?

Abusei de bebidas alcoólicas? Usei drogas?

  1. Ato de Contrição[3]

 

Senhor, eu me arrependo sinceramente de todo mal que pratiquei e do bem que deixei de fazer. Pecando, eu vos ofendi, meu Deus e meu sumo bem, digno de ser amado sobre todas as coisas. Prometo firmemente, ajudado com a vossa graça, fazer penitência e fugir às ocasiões de pecado. Amém![4]

 

  1. Oração Final

 

Para terminar o nosso Retiro colhendo dele frutos que permaneçam, rezemos:

 

Espírito Santo Consolador, concedei-me o dom da fortaleza.

Fortalecei minha alma para superar as dificuldades de cada dia,

os tormentos das perseguições e as insídias do maligno.

Ajudai-me a ser forte em meio às fraquezas espirituais,

para que eu seja sinal de Teu amor e bondade.

 

Espírito Santo de Luz, concedei-me o dom da sabedoria.

Que eu tenha o discernimento necessário para distinguir o mal do bem,

a mentira da verdade, a guerra da paz.

Que Tua santa sabedoria ilumine os espaços confusos de minha alma.

 

Espírito Santo Paráclito, concedei-me o dom do entendimento,

para que eu compreenda corretamente a vontade do Pai Celestial para minha vida.

Dai-me entender o próximo com amor, misericórdia e paz.

Que eu compreenda, com todo meu ser,

o amor de Cristo Jesus por mim e pela humanidade.

 

Espírito Santo, Advogado Celestial, concedei-me o dom da ciência.

Que, iluminado pela Tua luz divina, eu compreenda corretamente

os planos de Deus para minha vida, e seja obediente aos ensinamentos divinos.

Sendo assim, um sinal permanente da misericórdia do Mestre Jesus no mundo.

 

Espírito Santo, Conselheiro Divino, concedei-me o dom do conselho.

Ilumina meu entendimento, para que eu busque em Deus as respostas para minhas dúvidas e inquietações humanas e espirituais. Colocai em meus lábios palavras que restabeleçam a paz no mundo, e ajudai-me a levar sempre um conselho que devolva às almas aflitas a serenidade em Deus.

 

Divino Espírito Santo, concedei-me o dom da piedade.

Que minhas orações sejam pontes de amor, que unam meu coração ao coração

de Deus Pai e do Cristo Senhor. Que meu fervor espiritual se renove sempre, para que minha alma frutifique na fé e na esperança.

 

Espírito Santo, Consolador dos aflitos, concedei-me o dom do temor de Deus,

para que eu tenha sempre frente meus olhos, a bondade divina, e que meus pensamentos, palavras e ações, não sejam uma ofensa ao amor misericordioso do Pai Celestial. Assim seja!

 

[1] Papa Bento XVI, Homilia de Quarta-feira de Cinzas. Roma, 13.02.2013. In https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2013/documents/hf_ben-xvi_hom_20130213_ceneri.html. Pesquisado em 23.01.2023.

 

[2] Papa Francisco MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO, Roma, 14.10.2016, In https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/food/documents/papa-francesco_20161014_messaggio-giornata-alimentazione.html. Pesquisado em 23.01.2023.

 

[3] Chama-se Ato de Contrição Perfeita a um recurso utilizado quando o penitente está impossibilitado de fazer a confissão sacramental e, para não descumprir o segundo mandamento da Igreja: “confessar-se ao menos uma vez por ano por ocasião da Páscoa”, reza fervorosamente uma fórmula de Ato de Contrição, com o firme propósito de receber o Sacramento da Reconciliação tão logo possível.

[4] Retirado do livro ‘Sou Católico, vivo a minha fé, Edições CNBB, 5ª edição 2019.

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    Quarta-feira, 02 de novembro de 2022.   Evangelho (Mt 5,1-12)   “Bem-aventurados…”   Naquele tempo, 1vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os…

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